Se pararmos para pensar, é difícil imaginar uma vida onde
não realizemos nenhuma atividade coletiva, ou seja, onde não tenhamos nossas
próprias profissões. Isso porque, para vivermos em sociedade, não podemos
produzir tudo que precisamos sozinhos. Comida, roupas, casas, veículos,
computadores e tudo mais que utilizamos no nosso dia a dia, tudo é produzido
coletivamente, e isso faz com que cada um de nós tenha uma função dentro da
sociedade.
Porém, na sociedade em que vivemos hoje, essas profissões são colocadas diante de nós com certas regras. Temos que trabalhar o dia todo, tendo apenas o fim de semana para descansar, e a grande maioria só ganha em troca um salário humilhante no fim do mês. Não decidimos o que fazer em nossos trabalhos, ficando subordinados aos interesses daqueles que nos empregam. Mas pior do que isso são as pessoas que estão desempregadas.
Contrariando essa lógica do trabalho coletivo, muitas
pessoas hoje estão sem trabalho e não realizam nenhuma atividade produtiva. Não
que isso seja culpa delas, mas muitas vezes nos deparamos com as portas
fechadas quando procuramos por algum trabalho assalariado. Pelo que parece, não
existe emprego o suficiente para todos, e muitas pessoas acabam ficando com sua
capacidade de trabalhar parada. As desculpas não são poucas, falta de estudos,
preguiça, incapacidade, má gestão do governo, dentre tantas coisas. Mas o
mercado de trabalho hoje não comporta toda a força de trabalho existente. Até
para algumas pessoas bem qualificadas e que precisam do trabalho está difícil
se empregar. O desemprego é um problema crônico que nenhum governo no mundo foi
capaz de resolver.Porém, na sociedade em que vivemos hoje, essas profissões são colocadas diante de nós com certas regras. Temos que trabalhar o dia todo, tendo apenas o fim de semana para descansar, e a grande maioria só ganha em troca um salário humilhante no fim do mês. Não decidimos o que fazer em nossos trabalhos, ficando subordinados aos interesses daqueles que nos empregam. Mas pior do que isso são as pessoas que estão desempregadas.
Até os números mais otimistas ocultam uma realidade muito
mais alarmante. Por detrás de toda estatística sobre a sociedade existem seres
humanos, com suas próprias vidas, famílias, desejos e necessidades. Por
exemplo, a pesquisa sobre desemprego realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) tem como conceito de “População Desocupada - aquelas pessoas que não tinham trabalho, num
determinado período de referência, mas estavam dispostas a trabalhar, e que,
para isso, tomaram alguma providência efetiva (consultando pessoas, jornais,
etc.)”[1].
Isso quer dizer que muitas pessoas que também vivem em
péssimas condições econômicas e, por alguma razão, não “tomaram alguma
providência efetiva” simplesmente não entram no cálculo do desemprego do IBGE.
Apenas dessa forma este órgão consegue falsear a realidade divulgando uma taxa
de desemprego próxima a 5%, como fizeram em 2013. Segundo esses dados oficiais,
apenas 5% da população economicamente ativa se encontra desempregada, sendo que
a realidade mostra uma situação muito mais alarmante. Apesar das divergências
políticas que temos com os princípios o Instituto Ludwig von Mises Brasil, em
um dos seus artigos [2] ele
aponta, utilizando a própria pesquisa do IBGE, que a taxa de desemprego estaria
situada por volta de 20%, e não dos falsos 5% que os dados oficiais insistem em
propagandear na mídia.
Todas as pessoas que já estão desempregadas há muito
tempo e desistiram de procurar emprego nem sequer entram no cálculo dos
desempregados. O senhor que cata latinhas e papelão, o pai de família que vive
de bicos ocasionais e não consegue uma renda de um salário mínimo ao mês, a
mulher que não encontra outra opção senão a prostituição, o jovem que trabalha
apenas meio período pois não conseguiu arrumar um emprego integral, além de
camelôs, malabaristas de sinais, pedintes e tantos outros casos de desemprego e
subemprego não entram no cálculo da “população desocupada” do IBGE.
Como podemos ver, o buraco do desemprego é mais embaixo
do que revelam os dados oficiais. Mas apesar deste ser um problema social
grave, a existência de um grande exército de desempregados é muito bom para o
sistema capitalista, colocando os patrões em uma situação extremamente favorável
na defesa de seus interesses. Como isso é possível? Bem, imagine que
trabalhamos em uma mesma empresa que utiliza uma mão de obra que está sobrando
no mercado de trabalho. Agora imagine que estamos recebendo salários baixos
(fácil imaginar, não é?), logicamente isso iria gerar uma insatisfação por
parte dos trabalhadores. Se resolvêssemos fazer uma greve e parar de trabalhar
até que nossos patrões aumentassem nossos salários satisfatoriamente, é
possível que ele nos demita tranquilamente, pois sabe que existem muitos
trabalhadores desesperados por um emprego, logo outras pessoas entrariam em
nosso lugar rapidamente. A simples existência deste exército de reserva (os
desempregados) força aqueles que estão trabalhando a aceitarem salários mais
baixos.
Essa situação é tão desfavorável para os trabalhadores
que muitas vezes os patrões pagam salários que não conseguem sequer dar conta
de garantir condições mínimas de sobrevivência. Foi preciso que o próprio
Estado burguês criasse a lei do salário mínimo. Mas essa lei não foi um
presente de um tão bondoso Estado para os trabalhadores. Seu objetivo era
estabelecer a quantidade mínima de bens que os trabalhadores precisam comprar
para conseguir ao menos se manter de pé para trabalhar no outro dia e gerar mais
lucro para seus patrões. Foi um golpe fatal de derrota à classe trabalhadora.
Infelizmente, a sociedade capitalista funciona há tanto tempo que é comum
encararmos esta situação de uma forma muito natural, as vezes, até benéfica.
Porém, por incrível que pareça, as circunstâncias nem sempre foram assim.
Na Inglaterra do século XIV, quando o capitalismo estava
apenas em sua fase inicial, surgiram as primeiras formas de trabalho
assalariado que deram origem às manufaturas e, posteriormente, às fábricas
modernas. Neste período, a procura por trabalho assalariado estava crescendo
rapidamente, mas a população inglesa ainda era muito pequena e, além do mais,
ainda estava muito ligada a uma tradição camponesa que poderia tirar parte do
seu sustento do trabalho agrícola. Como havia poucos trabalhadores para uma
quantidade cada vez maior de emprego, os patrões disputavam mão de obra pagando
salários muito altos. Dessa forma, os trabalhadores muitas vezes não queriam
trabalhar uma jornada de muitas horas, pois em pouco tempo de trabalho
conseguiam o suficiente para viver.
A situação estava tão desfavorável para a burguesia que
esta se tornou uma queixa frequente na Câmara dos Comuns no Parlamento inglês.
Para defender os seus interesses, os burgueses se utilizaram do Estado para
criar, em 1349, o Estatuto do Trabalho que, além de forçar os trabalhadores a
se submeterem a uma jornada maior, criou a lei do salário máximo, para evitar
os prejuízos da burguesia na sua disputa por mão de obra. Proibia-se, sob pena
de prisão, pagar salários mais altos do que o determinado por lei: uma pena de
10 dias para quem pagasse um salário mais alto e 21 dias para quem o recebesse [3].
Como podemos observar, o desenvolvimento do sistema
capitalista produziu uma superpopulação de desempregados que beneficia muito os
interesses dos patrões, pressionando os trabalhadores empregados a aceitaram
baixos salários e condições mínimas de trabalho. Olhando para o passado, parece
evidente que o Estado nunca agirá a favor dos trabalhadores, buscando formas de
acabar com o desemprego. Pelo contrário, como vemos na Inglaterra do século
XIV, buscará formas de garantir a realização dos interesses das classes
dominantes.
Apenas os trabalhadores organizados podem agir de acordo
aos seus interesses. Não podemos esperar que os próprios patrões ou o Estado
tomem providências, pois estes defendem interesses extremamente opostos aos dos
trabalhadores. Somente uma mudança radical em todas as estruturas sociais podem
mudar as circunstâncias que tornam o próprio desemprego algo benéfico e
necessário ao sistema econômico dominado pela burguesia urbana e rural. É
preciso lutar contra o próprio capital e destruí-lo. Os trabalhadores devem
tomar o controle sobre o que eles produzem com o seu suor, e gerir esta riqueza
segundo suas necessidades e não de acordo com os interesses mesquinhos dos mais
ricos. Esta é uma reflexão necessária e que está se tornando cada dia mais
urgente.
[3] Para
saber mais a respeito, consultar Karl Marx, O capital (volume 1, capítulo 8 – A
jornada de trabalho) ou Edward Palmer Thompson, Costumes em comum (capítulo 6 –
Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial).