Vivemos em um
século que a cada dia nos surpreende com as conquistas científicas feitas pelo
ser humano. A todo tempo somos bombardeados com informações sobre as
descobertas tecnológicas no campo da astronomia, medicina, física, biologia,
robótica, que têm possibilitado não somente a rapidez das formas de
comunicação, a realização de diagnósticos e de cirurgias com técnicas cada vez
mais sofisticadas, a exploração do solo e da natureza com o uso de máquinas
potentes e modernas, como também o desvendamento de alguns mistérios do
universo, antes inimagináveis, com o envio de sondas e de robôs a lugares
distantes milhões de quilômetros do planeta Terra.
De fato, a lista
das realizações da sociedade moderna é mesmo admirável. E, no entanto, apesar
de todas estas descobertas magníficas, a humanidade tem vivenciado problemas extremos
que têm se agravado e que colocam em dúvida a sua própria sobrevivência. Em
outras palavras, ao mesmo tempo em que os noticiários divulgam os progressos
obtidos pelas pesquisas científicas, falam também, ainda que superficialmente,
sobre o aumento generalizado da violência, conflitos em diversas regiões do
globo, o crescimento da fome e da pobreza, epidemias novas e antigas, as
catástrofes naturais etc. Vivemos em um mundo de grandes contrastes: de um
lado, invenções e técnicas que permitem o aumento do conhecimento e a geração
de riquezas, do outro, a concentração da renda e o agravamento dos problemas
sociais. É preciso refletir sobre a situação do mundo capitalista e da
humanidade no século XXI. É fundamental compreender as raízes de tantos males
sociais e diferenças econômicas entre os povos e a existência das classes,
pois, somente assim, poderemos construir formas alternativas de organização
política e social.
O mundo hoje vive
em guerras. Em alguns casos guerras abertas envolvendo países cujas classes
dominantes buscam valer seus interesses econômicos por meio da conquista e/ou
defesa de áreas estratégicas para a ampliação dos lucros capitalistas:
Afeganistão, Iraque, Palestina, Síria, Ucrânia etc. Por trás destes conflitos
encontram-se grandes potências imperialistas atuais, a exemplo dos Estados
Unidos e da Rússia. Para garantir a realização dos seus objetivos, a burguesia
e seus respectivos governos não titubeiam em aprovar rios de dinheiro que se
destinam à crescente militarização, aos massacres e extermínio de grande parte
da população e à expulsão de milhares de pessoas em busca de refúgio para a
sobrevivência. Segundo alguns dados, o mundo hoje presencia o maior contingente
de refugiados na história em fuga dos seus países de origem por conta dos
flagelos provocados pelas guerras, intolerâncias religiosas e étnicas,
perseguições políticas.
Outro tipo de conflito
é mais velado, mas nem por isso menos violento. Em algumas regiões a morte leva
aos milhares e por diversos meios: fome, doenças, assassinatos, tortura etc. O
número de famintos tem aumentado de maneira vertiginosa, embora a produção de
alimentos no mundo seja suficiente para acabar com a fome. Mais de um bilhão de
pessoas não tem o que comer e a cada três segundo uma pessoa morre por falta de
comida. A violência tem assumido feições extremas e dizimado a vida de pessoas
em todos os recantos do planeta. Mesmo que se considere que as práticas da violência
são tão antigas quanto a própria humanidade, historicamente ela assume feições
distintas de acordo as circunstâncias de cada período e, nos dias atuais, o que
temos presenciado é a total banalização e naturalização da violência. Homens e
mulheres tornaram-se meros objetos que a qualquer momento podem ser
descartados. Mas todos estes problemas apenas revelam as contradições
insolúveis existentes no capitalismo. Isto, Karl Marx, um pensador alemão que
viveu no século XIX, já apontava quando apenas este sistema econômico estava
dando os seus primeiros passos.
E estas
contradições se aprofundam ainda mais em momentos de crise. Nas últimas
décadas, a situação internacional da economia capitalista tem apresentado
baixos índices de desempenho econômico. No caso dos EUA, o carro chefe da
economia mundial, as previsões mais otimistas indicam um crescimento de apenas 3%
para este ano. Mesmo a economia mais aquecida da atualidade, a chinesa, encontra-se
em franco processo de desaceleração, apesar do alto grau de exploração da força
de trabalho da classe operária.
O Brasil não ficou
alheio à crise mundial. E não poderia ser diferente tendo em vista as complexas
redes de integração econômica do mercado mundial. Nos quatro últimos anos do
governo do PT, o crescimento da economia foi o menor de todo o período da
república. Para este ano (2014), o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)
deverá ser zero ou bem próximo disso. Além do mais, os trabalhadores já
enfrentam uma piora em suas condições de vida com a retomada da inflação e que
ainda devem piorar com as medidas necessárias para a contenção da crise:
arrocho salarial, aumento do desemprego, cortes nas benfeitorias sociais
(educação, saúde, seguridade social etc). Apesar da propaganda do governo ressaltar
que contribuiu para o ingresso de parte da população na dita “classe média”, o
país continua com poucos ricos e muitos pobres. Dados do Banco Mundial mostram
que o Brasil mantém uma das distribuições de renda mais desiguais do mundo.
Assim, o “progresso econômico” que se propaga para os trabalhadores e o povo em
geral não passa de um cala boca para esconder a real situação do país.
O discurso da
burguesia em uma sociedade capitalista é que a alternância do poder político
permite que as condições de vida do povo possam ser melhoradas. Querem fazer
crer, e nisto são bem eficientes, que vivemos em uma sociedade democrática com
possibilidades idênticas para todos os cidadãos de bem e que se esforçam
cotidianamente para conquistar seu lugar ao sol. É o poder da ideologia
burguesa absolutamente necessário para assegurar a passividade e a ordem da
população carente em meio a uma sociedade perversamente desigual.
É este o momento
pelo qual passa o Brasil. Enquanto a atenção de todos estava voltada para a
escolha dos mandatários maiores do país, tentou-se jogar para debaixo do tapete
a sujeira e a podridão do sistema que, após o espetáculo das eleições, vem à
tona com as eternas denúncias de corrupção envolvendo os próprios pares. O
momento pós-eleitoral impõe aos principais projetos de dominação a tarefa de
realização de um acordo geral, tendo em vista o estabelecimento de novos pactos
políticos. Os partidos em disputa tentam vender a ideia de que se tratam de
projetos distintos de melhoria das condições de vida das pessoas mas, no fundo,
a diferença é quem vai gerir melhor os interesses da classe burguesa.
A despeito das
especificidades dos problemas sociais de cada país, de maneira geral, o que se
tem visto é que, cada vez mais, a precarização da vida dos trabalhadores e das
populações pobres de todo o mundo tem se agravado a cada dia. Em função disso,
as mobilizações populares ocorridas nos últimos anos em vários países,
inclusive no Brasil, têm demonstrado que somente o caminho da luta incessante e
das organizações verdadeiramente comprometidas com as causas do proletariado
podem fazer frente aos ataques impiedosos da burguesia. Não à toa, o Estado, criado
historicamente para a defesa dos interesses e privilégios das classes
dominantes, tem colocado em movimento forças cada vez mais militarizadas num
cenário onde se prolifera a insegurança, as crises, a instabilidade política,
econômica e social.
O mundo
encontra-se numa encruzilhada e para os trabalhadores não restam muitas
alternativas. Faz-se necessário assumir o papel de protagonista tendo em vista
as mudanças reais que precisam ser realizadas, caso contrário, o cenário de
barbárie social da violência, das carnificinas, da fome e das guerras tende a
se ampliar. Isso tudo desenvolvido pela burguesia e pelo capital e que se
reproduz por diversos meios e pelas ações de seus vários aliados: a repressão
policial militar, o narcotráfico; a burocracia do Estado, os sindicatos e
partidos da ordem como um todo. A tarefa que os trabalhadores tem pela frente
não é pequena, mas o sistema capitalista não é indestrutível, as suas
contradições e fragilidades impulsionaram e devem impulsionar lutas ampliadas
pelo direito à vida e pela sobrevivência da humanidade!!